quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

SOBRE DOM QUIXOTE

Numa determinada passagem de Dom Quixote, este vê a aproximação de um rebanho de carneiros e imediatamente entende se tratar de uma tropa de guerreiros inimigos vindo em sua direção. Não apenas nessa passagem, mas ao longo de todo o romance, D. Quixote interpreta a realidade e as experiências trazidas pelo acaso ao seu modo, atribuindo-lhes, imprimindo-lhes a projeção de si mesmo, de acordo com sua disposição e sentimento no momento. Assim fazemos todos nós, a todo instante. Vivemos o tempo todo dando forma ao que não tem forma, interpretando a realidade, sempre de um ponto de vista pessoal, subjetivo. A diferença é que em D. Quixote isso se dá ao nível do sonho. Mas mesmo em vigília vivemos uma espécie de sonho, ilusão. Essa ilusão é nossa condição de vida, sem ela tudo se tornaria vazio. Um ato, em si, é vazio – é atribuindo valor ao ato, que agimos.


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