segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A GRANDE QUESTÃO

A grande questão é a seguinte: se um diabinho se aproximasse dissesse que você está condenado a passar a eternidade revivendo as suas últimas 24 horas, em um retorno cíclico interminável, o que você sentiria? Ou melhor, não digo a eternidade, pois viver qualquer coisa eternamente seria um fardo insustentável, mas passar o resto da vida vivendo essas últimas horas (como no filme O Feitiço do Tempo). Isso seria pra você um castigo ou uma dádiva? Tudo bem, já deu pra entender, algo como viver plenamente, aproveitar cada instante, amar a vida, or something. Mas se eu me dou por satisfeito com minhas últimas 24h, seja lá como tenham sido, que lugar terá a ambição, o desejo de se superar? Por exemplo, hoje não fui produtivo, então vou dormir pensando o que posso fazer de diferente amanhã para ser produtivo. Certo, mas digamos que então no dia seguinte você tenha conseguido ser produtivo – será que isso terá tornado o seu dia, essencialmente, melhor do que o anterior? Hoje você busca produtividade, mas amanhã buscará outra coisa que escapa do seu raio de visão atual. Hoje fui produtivo, porém meu cachorro morreu, ou minha namorada brigou comigo, ou meu time perdeu (estou buscando aqui situações aqui situações caricatas, é claro que essas frustrações provavelmente se encontrarão nas margens mais recônditas e improváveis do indivíduo). Portanto lá está nosso diabinho – se eu aceito sua condenação como uma dádiva, estou abraçando a vida junto com seus aspectos indesejáveis, estou afirmando o sofrimento. Mas isso é mesmo possível? Ouça uma música triste e sinta aquela indizível alegria transbordando dentro de si, que somente através da tristeza se pode alcançar – então a afirmação do sofrimento se revela muito mais acessível do que poderia parecer.

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