domingo, 22 de janeiro de 2012

A QUESTÃO DA FUNÇÃO SOCIAL NA ARTE

Muitas vezes a arte pode até vir a ter um papel social, transmitir uma idéia, uma “opinião”. Mas vejamos bem. A arte nos conecta com alguma espécie de essência (a partir daqui, entenda “essência” como bem quiser) sempre perturbadora por nos revelar algo que nos tira de nosso conforto, e o canal que permite essa conexão é a beleza. A beleza, que é bela aparência, é como um anestésico para a absorção dessa essência perturbadora. É como poder atear fogo em si mesmo e, não só sobreviver, como também sair ileso e revigorado. Desse modo, como que por osmose, nós nos infectamos desse fogo, dessa essência. É de escolha do artista, me parece, que esse essência venha acoplada numa opinião, numa denúncia – um interior que quer virar do avesso para olhar o de fora, o revés da ostra. Mas o mais importante é que a arte esteja além dessa mera opinião, conserve seu interior intacto mesmo que este tenha a pretensão de escapulir para a atmosfera, esticar seu nariz para a superfície. A opinião, se houver, será apenas uma parte da obra, um órgão, e de pouco valor; ela deverá estar subordinada ao todo – o contrário disso seria como um homem passar a vida dedicando-se a seu apêndice. A opinião (termo que já podemos estender aqui para razão, moral), na arte, é como o apêndice – órgão de pouca ou nenhuma importância para o funcionamento do organismo –, e quem reduzir a arte a um superficial meio de transmitir opinião, não só não estará fazendo arte como provavelmente estará sofrendo de apendicite.

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