domingo, 1 de janeiro de 2012

AMPLIANDO O FOCO

Ao tratar aqui sobre o tema da arte no texto Catarse & Redenção, me parece agora que situei meu pensamento num âmbito limitado; analisei corretamente, porém dando ênfase apenas a uma faceta do todo. Dando o exemplo da frase “a janela é um motivo para o mundo”, disse que na medida em que busco explicar racionalmente a frase me afasto de sua poesia, ou seja, que a poesia está num efeito sem causa – no mistério. Mas e quanto ao teatro, à pintura? E se escrevo uma frase comum? – “a janela está aberta”. Nesse caso, apresentei uma idéia racional, lógica, porém: se essa frase está dentro de um contexto artístico, em uma música, por exemplo, ela passa a ser uma imitação de si mesma; não se trata mais de dizer que “a janela está aberta”, mas de representar a idéia de a janela estar aberta. Novamente aqui não estou apontando para a realidade, estou a representando, imitando; eu destaco a realidade de si mesma e fico com sua aparência – com seu efeito. A partir daí posso brincar e embaralhar essa aparência (como no caso da primeira frase) ou não. Portanto, a arte é como uma dança de efeitos sem causa, mas, diferentemente de como eu havia colocado, essa separação não se faz necessariamente pelo conteúdo do que está sendo dito: seu conteúdo pode ser repleto de efeitos com causa – racional – mas sua casca, seu próprio corpo é uma enorme representação – irracional – dessas causas e efeitos. Esse conteúdo seria como pessoas em um avião: as pessoas andam com os pés grudados no bojo do avião, porém esse avião já está no ar. Para concluir, “a janela é um motivo para o mundo”, devido o seu caráter ilógico, seria como uma pintura surrealista de uma paisagem, e “a janela está aberta” uma pintura realista – o produto de nenhuma das duas será a realidade ela mesma, em três dimensões, mas uma imitação chapada dessa realidade, em que a noção de profundidade (a razão, a moral, a causa), se houver, é obtida por um efeito.

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